Nos últimos tempos a comunidade gaúcha tem estado diante de uma certeza: o ensino médio tradicional não está dando certo. Mudou o mundo, mudaram os professores, mudaram os alunos e a educação se tornou-se falha. Logo, tiramos dai uma certeza O ENSINO MÉDIO PRECISA MUDAR, precisa se adequar aos novos tempos, aos novos alunos, a nova realidade.
Surge uma proposta de mudança onde encontramos o seguinte texto:
A
educação básica tem por finalidade desenvolver o educando,
assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da
cidadania e fornecer-lhes meios para progredir no trabalho e em estudos
posteriores (BRASIL, Lei nº 9.394/1996, Art. 22).
Em decorrência, o texto legal apresenta o ensino médio como etapa final
da educação básica, em continuidade ao ensino fundamental, com os
seguintes objetivos:
I – a consolidação e aprofundamento dos
conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o
prosseguimento de estudos;
II - a preparação básica para o trabalho e
a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz
de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou
aperfeiçoamentos posteriores;
III - o aprimoramento do educando como
pessoa humana, incluindo a formação ética e desenvolvimento da autonomia
intelectual e pensamento crítico;
IV - a compreensão dos fundamentos
científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando teoria e
prática, no ensino de cada disciplina (BRASIL, Lei nº 9.394/1996,
Art.35).
Surge então uma proposta de mudança: Ensino Médio Politécnico. Esta modalidade de ensino médio tem em sua concepção a base na dimensão politécnica, constituindo-se no aprofundamento da articulação das áreas de conhecimentos e suas tecnologias, com os eixos Cultura, Ciência, Tecnologia e Trabalho
A politecnia se traduz por
[...] pensar políticas públicas voltadas para a educação escolar integrada ao trabalho, à ciência e à cultura, que desenvolva as bases científicas, técnicas e tecnológicas necessárias à produção da existência e a consciência dos direitos políticos, sociais e culturais e a capacidade de atingi-los (GRAMSCI, 1978)
A noção de politecnia diz respeito ao domínio dos fundamentos científicos das diferentes técnicas que caracterizam o processo de trabalho produtivo moderno (SAVIANI, 1989, p. 17).
É a politecnia, assim compreendida, que se constitui no princípio organizador da proposta de Ensino Médio, seja na sua versão geral, o Ensino Médio Politécnico, ou na versão profissional, Educação Profissional integrada ao Ensino Médio.
Mas quem qualifica os professores para trabalhar nesta nova ótica? Quem qualifica a escola para o novo ensino médio?
A maioria dos professores da rede tiveram sua formação compartimentada, que levava ao isolamento das disciplinas e a nova proposta é interdisciplinar. Trabalhar interdisciplinarmente requer reuniões, leitura e planejamento conjunto.
Mas será que a realidade possibilita horário comum de reuniões e planejamento? Será que os professores estão conscientes de que hora atividade não é folga e sim hora de trabalho para a preparação da ação docente?
Trabalhar nesta ótica requer motivação. Porém, a desmotivação e decepção pelas promessas não cumpridas e pela negação de direiros não é o melhor cenário
Professores trabalharam durante anos dando premazia para a memorização
de conteúdos e a proposta é que os alunos investiguem, construam o
conhecimento de acordo com eixos temáticos. Estamos preparados para a investigação na escola ?
Será que nossas escolas estão com o espaço físico adequado para se trabalhar nesta ótica?
Lembrando ainda trechos dos documentos legais
"
O pressuposto básico da interdisciplinaridade se origina no diálogo das disciplinas, no qual a comunicação é instrumento de interação com o objetivo de desvelar a realidade.
A interdisciplinaridade é um processo e, como tal, exige uma atitude que evidencie interesse por conhecer, compromisso com o aluno e ousadia para tentar o novo em técnicas e procedimentos."
Como fazer este diálogo sem horários comuns? Sem que os professores tenham motivação? Sem que se tenha acesso a uma biblioteca organizada e atualizada? Sem que se tenha acesso a internet na sala de aula?
Será que reuniões esporádicas proporcionadas pelas SE e CRE para um grupo reduzido de professores onde na maioria das vezes poucas dúvidas são esclarecidas servem como qualificação do corpo docente???
Entre tentativas, angústias, dúvidas e certezas, acertos e erros, troca troca de regras durante o jogo, vamos sendo cobaias de uma proposta na esperança de que dê certo... senão teremos mais uma geração perdida.